A figura que mais me encanta no Natal é José. Acho incrível que José aceitou a história de Maria. Um anjo veio e disse que ela teria um filho de Deus. Ela então conta para José e José acredita, aceita e acolhe. Cria o menino como seu, corre riscos por ele, ama e educa. O carpinteiro José, discreto e humilde. Que homem. Admiro e sinto-me muito pequeno diante da lembrança dele.
Imagina hoje, um José, quantos existem? O menino Jesus, pequenino ainda, um belo dia some e quando o encontram está lá conversando com os rabinos. Bronca? Castigo? Nada. O bom e velho José aceita e acolhe. Ele é uma Constituição, com fundamentos e princípios claros de como criar um salvador. E assim chegou Jesus à vida adulta. E foi para o sacrifício. E é principalmente nesse momento que a minha fantasia diverge da fantasia comum.
Esse Jesus que brigou com os vendilhões do templo, enfrentou as autoridades religiosas, aceitou as acusações injustas, o sofrimento físico e a morte na cruz, era assim porque era o filho que José criou, com firmeza de caráter, determinação de ideias, coragem de assumi-las e sustentá-las. Pois quem mais deu um exemplo desses a Jesus? Deus, distante e ambíguo, incapaz de um tete a tete direto com Maria, a ponto de mandar um mensageiro para uma decisão tão fundamental? Não. José, esse sim foi o macho da porra que deveria ser lembrado e celebrado como o modelo do homem que compõe, agrega, aceita e assume o amor da mãe – a Maria que gerou o menino que foi salvo por José, rápido no gatilho, que soube que deveria fugir quando o rei maluco queria matar todos os primogênitos. Poderia ter aí, José, testado o Deus fecundador.
Ora, se é Deus, por que sou eu, o carpinteiro, que tenho de fugir, correr riscos, dormir ao relento, ver minha esposa dar a luz em meio aos bichos, para salvar o filho que nem é meu? Mas José não entrou nessa discussão cheia de testosterona com o Pai celestial. Fez a parte dele. E sem cobrar crédito ou reivindicar privilégios. Fez e pronto.
Nasceu o menino Jesus, bonitinho, moreninho, os cabelos e olhos negros como os do lugar, o choro de criança saudável, logo buscando o seio materno, o amor materno. O pai, sabe Deus onde estava. Mas José estava ali, ao alcance da mão. Esse José eu brindo no Natal. Sem ele, não haveria Jesus. Ou haveria. Mas não seria amoroso e cheio de compaixão. Jesus teve com quem aprender. E aprendeu. Mazal Tov.
- Daniel Medeiros – Doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de História no Curso Positivo.