domingo, 22 dezembro

    Prefiro acreditar e no mundo do meu jeito

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    Lembro-me de alguns dias atrás, quando o meu carro teve que ficar na oficina tive que ir de onibus para o trabalho. E quando entrei, passei pela catraca e olhei para frente para verificar onde eu iria sentar, qual cadeira estava livre. Normalmente, quando se faz isso, você costuma olhar para todos os lugares, mas você olha para as pessoas também e elas olham para você. Algumas viram a cara rapidamente, outros te encaram, e alguns não reparam na sua entrada e ficam conversando ou distraídos com o movimento da cidade, visto pela janela.
    Naquele instante, reparei que todos, eu disse “todos”, estavam de alguma maneira distraídos ou ocupados com o celular. Mensagens, e-mails, Whatsapp, vídeos, postagens, Instagram. Não importa. Todos estavam ocupados com algum tipo de mídia ou rede social.
    Quando é que o interesse pelo humano se tornou tão desnecessário?
    Você está sentado do lado de uma pessoa no ônibus e tem a chance, de alguma forma, de conversar com ela. Talvez ela tenha uma história engraçada para contar, talvez seja um exemplo de luta de vida, talvez o dia a dia dela lhe mostre o quanto sua vida é excepcional, talvez seja uma pessoa engraçada (apesar da cara amarrada à primeira vista), talvez seja um jovem ou um idoso com um conhecimento ou opinião sobre política que você nunca tinha pensado, talvez seja um profissional das artes, um escultor, um escritor. Talvez não tenha profissão, mas a sua simpatia em te ouvir lhe deixe à vontade. Talvez seja uma pessoa que lhe diga alguma coisa que toque o seu coração e você nunca se esqueça daquilo. Não importa. O que importa é que quando você tiver que descer no seu ponto de ônibus, o termo “prazer em conhecer” não será futilmente dito como apenas uma forma sutil de terminar a conversa.
    As pessoas hoje perderam o prazer de estar juntas. É impressionante o paradoxo da comunicação hoje em dia. A tecnologia, hoje, nos aproximou de nossos familiares, amigos que não víamos e nem conversávamos há muito tempo.
    Conseguimos conversar com todos a qualquer momento. A qualquer hora do dia. Mas já percebeu que o contato físico ficou menos importante? Já reparou que é mais fácil dizer que está com saudades de sua mãe pelo Whatsapp do que realmente dar um abraço nela? Já foi de sua observação que, cada dia, as pessoas tendem a resolver os problemas ou questões particulares por mensagens e sabe por que?
    É mais fácil.
    Não digo que é mais fácil, mais sim mais cômodo, pois é mais fácil você ter coragem de escrever coisas desagradáveis ou opiniões divergentes quando você não está cara a cara com os envolvidos ou a situação.
    A mesma tecnologia que juntou as pessoas é a mesma que as afasta. Falo isso também em relação ao grande movimento fotográfico da história da humanidade. As selfies.
    Não, não estou dizendo que sou contra, pois também tiro. Mas, às vezes, fico impressionado com viagens que faço e vejo o quanto a pessoa tira selfis dos lugares e momentos ou até mesmo fotografias normais. Enquanto elas fazem isso, cada momento passa.
    Eu entendo, porque eu também tiro fotos de coisas legais quando estou viajando. O que estou querendo enfatizar é que as pessoas se preocupam tanto em postar as fotos em redes sociais e mostrar o que estão fazendo ou lugares que estão, em vez de viver aquele momento.
    As pessoas estão mais preocupadas em “mostrar” do que em “sentir”. Perdem a mágica da vida pelo ato de exibicionismo. Perdem a sensação dos milagres da vida e de nossa existência para mostrar a outros os que estão fazendo e não percebem a duração da importância de sua postagem é tão grande quanto o esquecimento e a banalidade que isso se tornará para os seus seguidores em apenas alguns minutos,
    Pena que temos de esperar alguma coisa acontecer para enxergarmos com nitidez o que é realmente relevante.

    • Rui Miguel – Engenheiro de Rede de computadores e engenheiro certificado Microsoft, atualmente aposentado.