Quem circula pelos principais corredores de Contagem, rumo aos locais de maior acesso de pessoas, já percebeu que o clima deste ano está diferente. As bandeiras não tremulam nos carros como em edições anteriores, elas não aparecem nas janelas e sacadas das casas, até o comércio se mostrou um tanto reticente ao cuidar de suas vitrines.
Independente do resultado da partida inaugural, entre Brasil e Suíça, na Arena Rostov, que durante o início da construção do estádio, foram encontradas cinco granadas da Segunda Guerra Mundial, quase perfeitamente preservadas, o sentimento é de expectativa. Mais até, de dúvida em relação ao que vai acontecer até 17 de julho, quando o mundo terá mais um campeão de futebol.
Nessa Copa de 2018, devemos ter cautela, garra, equilíbrio e competência para apagarmos a péssima imagem de 2014. Que o insucesso vivenciado em Terra Brasilis nos sirva de lição, afinal precisamos honrar o nome e as cores do escrete canarinho. Nada de excesso de confiança, complexo de superioridade, se quisermos ser uma vez mais os melhores do mundo.
Tudo tem seu tempo e lugar. Agora, nos gramados, tempo de lutar pelo hexa. Daqui a pouco, nas urnas, tempo de lutar pela democracia, pelo governo por excelência, pela cidadania e pela qualidade de vida de toda a nação.
E por falar em compromisso com urnas, faltando pouco meses para os dias 7 e 28 de outubro, datas do 1º e o 2º turno das eleições, além da cautela verificada no futebol, os mais de 145 milhões de brasileiros aptos ao voto estão cada vez mais desiludidos frente a avassaladora crise moral e ética tatuada na quase totalidade da classe política, afundada em sucessivos escândalos de corrupção e uso da máquina pública para fins pessoais, desconectados do interesse público. O cenário podre revelado pela Operação Lava Jato coloca diariamente contra a parede cacique, pajés e índios dos maiores aos menores partidos.
Diante desta realidade, a opção pelo não-voto só tem crescido. Mas há uma contradição: pedimos renovação das lideranças e um novo padrão de administração política, que reafirme valores como a transparência e combate à corrupção, mas nenhuma dessas conquistas será obtida se não participarmos do processo eleitoral. É difícil mudar se não houver cidadania ativa. Ficar em casa é um protesto legítimo, mas a possibilidade de mudar a situação torna-se muito pequena.
Em ambos os casos, Copa do Mundo e eleições, salve o Brasil.