Precarização dos serviços
A tarifa está mais cara e foram anunciados investimentos bilionários no metrô de Belo Horizonte, mas a sensação dos usuários é de que a qualidade do serviço ofertado caiu, em vez de melhorar. Na visita técnica a estações e ao pátio de manutenção, essa foi a realidade constatada pela deputada Bella Gonçalves (Psol), que representou a Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A Metrô BH, empresa do Grupo Comporte, assumiu a concessão do metrô da Capital em março de 2023, com o compromisso de investir, nos próximos cinco anos, R$ 500 milhões na revitalização e expansão do modal. O contrato, com validade de 30 anos, prevê a maior parte dos aportes, R$ 2,8 bilhões, por parte do Governo Federal, enquanto o Estado deve arcar com R$ 400 milhões.
Em audiência pública, metroviários denunciaram demissões em massa, más condições de trabalho, casos de assédio moral e precarização dos serviços, o que motivou a visita às Estações Central e São Gabriel e ao pátio de manutenção desta última.
Segundo o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro), após a privatização, a força de trabalho, que já era insuficiente, foi reduzida praticamente pela metade – eram 1.483 funcionários e hoje são cerca de 750. O número de usuários também despencou dos 220 mil por dia, registrados antes da pandemia de Covid-19, para os atuais 85 mil passageiros diariamente.
Os setores de manutenção e operação foram os mais atingidos pelo corte de pessoal. Terceirizados são responsáveis pelos serviços de capina, segurança, portaria e limpeza.
“É uma situação desesperadora”, afirmou Pedro Vieira, diretor do Sindimetro. Ele lamentou a perda de direitos e a sobrecarga de trabalho, que levam ao adoecimento físico e mental – cinco funcionários teriam tentado suicídio ano passado.
De acordo com o sindicato, profissionais foram convocados para trabalhar inclusive nos fins de semana, nos últimos meses. A empresa, por outro lado, alega que tudo não passou de um ruído de comunicação, pois, na verdade, apenas os interessados teriam participado de serviços mais demorados, como a troca de trilhos, com as horas-extras sendo compensadas durante a semana.
Fato é que, na visita na sexta (19), Bella Gonçalves atestou a necessidade de serviços de manutenção, que vão da poda de mato na estação ao funcionamento do sistema de som nos vagões. À noite, o menor número de seguranças e a escuridão deixam o ambiente mais perigoso.
Metrô BH nega
Gerente de manutenção da Metrô BH, Roberto Fischer confirmou a redução de 60 para 42 profissionais no setor. A previsão da empresa é contratar mais 10 profissionais em dois meses e chegar ao quadro de pessoal dimensionado, com o alegado aumento de produtividade.
Atualmente, são 20 trens em circulação de uma frota de 35. O gestor explicou que os veículos disponíveis atendem a demanda e que a rotação de trens se dá pela manutenção preventiva e corretiva. Quatro deles estão sendo utilizados somente para o reaproveitamento de peças.
A frota se divide entre trens com 10 ou 40 anos de uso. Estes últimos, obviamente, demandam maior atenção e são recolhidos ao pátio para manutenção com mais frequência.
No entanto, o gestor assegurou aos sindicalistas e usuários presentes que a segurança operacional é uma prioridade para a concessionária, com o respeito a todas as normas técnicas.