O xadrez é um jogo milenar que exige estratégia. Talvez por isso a sua associação constante às práticas militares e políticas. Se no jogo, cada lance exige concentração maior, pois é preciso não perder de vista a última movimentação do adversário; na política, além disso, é preciso refletir bem sobre os efeitos que se quer e se pode obter e só então efetuar a jogada. Em uma única palavra, xadrez.
É da gramática que vem outro conceito importante para a prática política, visto que largamente utilizado pelos praticantes desta arte nobre: a entrelinha. Ler nas entrelinhas significa compreender o sentido não explícito, ouvir o não dito.
Claro está que os políticos – uns mais, outros menos; dai a roupagem de raposa dada a muitos deles – são useiros e vezeiros desta prática e para entendê-los é preciso conhecer tais procedimentos. Claro também que não é preciso ser exímio enxadrista para entender o jogo político, nem gramático especializado para ler entrelinhas.
Unir as duas coisas, ou seja, conhecer as duas práticas, permite que o cidadão não só entenda melhor o jogo que está sendo jogado, a escrita que está nas linhas.
É com estas ferramentas que o leitor deve se dedicar à compreensão das entrevistas com representantes da classe política, especialmente neste momento eleitoral. Todos, indistintamente, dizem mensagens cifradas, usam um código de interpretação bastante particular. Em outras palavras, nem tudo aquilo que declaram se deve escrever e menos ainda, nem tudo aquilo que é não dito, deve ser desprezado.
Ao apresentar aos leitores matérias oriundas de entrevistas feitas com candidatos busca-se uma compreensão maior do processo de definições de nomes para a disputa. Quase sempre os políticos se declaram candidatos das bases e não de si mesmos, embora essas bases só sejam ouvidas, na realidade, quando são chamadas às urnas. Raramente algum admite que o interesse pessoal, familiar ou de grupo esteja por trás da decisão de disputar um pleito, embora as evidências estejam claras. De tão raro, fica a pergunta sobre o interesse aparentemente conflitante.
Certo é que todas as informações são fundamentais para que o eleitor faça sua escolha, a mais consciente possível, estejam elas ditas claramente ou nas entrelinhas; assim como importa cada manobra no tabuleiro desse xadrez diferente.
E a escolha não será uma tarefa fácil. O primeiro turno do pleito, agendado para o dia 7 de outubro, terá novidades como o maior número de candidatos a serem escolhidos, já que cada eleitor deverá votar para deputado federal, deputado estadual, dois senadores, governador e presidente da República.